Afirmou
o padre Diogo António Feijó, num discurso pronunciado no parlamento do Império,
em 10 de outubro de 1827: não há na Bíblia
uma só passagem, a favor do referido celibato. De fato ele estava dizendo a
verdade. Nos versículos 1 e 2 do capítulo sétimo da Primeira Epístola aos
Coríntios, por exemplo, encontramos estas palavras de São Paulo:
“Agora,
quanto ás coisas que me escrevestes, penso ser bom que o homem se abstenha da
mulher. Mas, dado o perigo da imoralidade, cada um tenha a sua própria mulher,
e cada uma tenha o seu próprio marido.”
Mais
adiante, nos versículos 8 e 9 do mesmo capítulo, o Apóstolo dos Gentios
enfatiza:
"Contudo,
aos solteiros e às viúvas digo que lhes é bom permanecerem assim, como eu. Mas,
se não podem guardar a castidade, casem-se. É melhor casar do que se
abrasar."
Quem
é inimigo do celibato clerical, e deseja combatê-lo, tem aí no texto de São
Paulo, encerrado na própria Bíblia,
uma arma poderosa. Achará outro argumento eficaz, e bem eloqüente, nos
versículos 6, 7, 8 e 9 do capítulo décimo do Evangelho de São Marcos. Estes
versículos reproduzem as palavras de Cristo sobre o matrimônio, quando ele deu esta
resposta aos fariseus:
“...no
princípio da criação, Deus os fez homem e mulher. Por causa disso, deixará o
homem o seu pai e a sua mãe, e passarão os dois a ser uma só carne. Portanto,
já não são dois, mas uma só carne. Aquilo, pois, que Deus uniu, não o separe o
homem.”
Jesus
nunca disse: se o homem for um sacerdote e a mulher uma sacerdotisa, nenhum
deles poderá ficar unido pelos laços do matrimônio. Se o Salvador houvesse
firmado este dogma, São Paulo não aconselharia no versículo 9 do capitulo
sétimo da Primeira Epístola aos Coríntios:
"É
melhor casar do que se abrasar."
Como
observou o padre Feijó no seu discurso, São Clemente de Alexandria apoiava a
atitude de São Paulo. Evocando São Jerônimo, esse padre acentuou: outrora, no
alvorecer do Cristianismo, “foram quase sempre preferidos para o sacerdócio os
homens casados". Ele também se referiu a São Dionísio, bispo de Corinto,
que não deixou o bispo de Gnosa impor a seus companheiros de religião “o pesado
jugo do celibato."
Por
que Feijó queria que os padres se casassem? É porque muitos padres de sua
época, como ocorre nos dias atuais, eram hipócritas, tinham filhos, amantes,
concubinas, e assumiam o ar de santos. Basta lembrar que um dos maiores
escritores do Brasil, o romancista José de Alencar, havia sido gerado por um
sacerdote, o padre José Martiniano Pereira de Alencar. Nascido no Crato, a
"capital do Cariri", o pai do autor de “Iracema” recebeu a tonsura no
Seminário de Olinda e governou a província do Ceará durante quatro anos, de
1834 a 1837.
O
papa Pio II, como informou Feijó, era favorável ao casamento dos padres. Homem
enérgico, sem mel na língua, Feijó descreveu o caso do cardeal que foi à
Inglaterra, a fim de convencer os padres de um concílio a adotar o celibato.
Pois bem, logo depois surpreenderam esse cardeal moralista nos braços de uma
prostituta...
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