domingo, 14 de abril de 2019

Não há, na Bíblia, oposição ao casamento de padres


Afirmou o padre Diogo António Feijó, num discurso pronunciado no parlamento do Império, em 10 de outubro de 1827: não há na Bíblia uma só passagem, a favor do referido celibato. De fato ele estava dizendo a verdade. Nos versículos 1 e 2 do capítulo sétimo da Primeira Epístola aos Coríntios, por exemplo, encontramos estas palavras de São Paulo:
“Agora, quanto ás coisas que me escrevestes, penso ser bom que o homem se abstenha da mulher. Mas, dado o perigo da imoralidade, cada um tenha a sua própria mulher, e cada uma tenha o seu próprio marido.”
Mais adiante, nos versículos 8 e 9 do mesmo capítulo, o Apóstolo dos Gentios enfatiza:
"Contudo, aos solteiros e às viúvas digo que lhes é bom permanecerem assim, como eu. Mas, se não podem guardar a castidade, casem-se. É melhor casar do que se abrasar."
Quem é inimigo do celibato clerical, e deseja combatê-lo, tem aí no texto de São Paulo, encerrado na própria Bíblia, uma arma poderosa. Achará outro argumento eficaz, e bem eloqüente, nos versículos 6, 7, 8 e 9 do capítulo décimo do Evangelho de São Marcos. Estes versículos reproduzem as palavras de Cristo sobre o matrimônio, quando ele deu esta resposta aos fariseus:
“...no princípio da criação, Deus os fez homem e mulher. Por causa disso, deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e passarão os dois a ser uma só carne. Portanto, já não são dois, mas uma só carne. Aquilo, pois, que Deus uniu, não o separe o homem.”
Jesus nunca disse: se o homem for um sacerdote e a mulher uma sacerdotisa, nenhum deles poderá ficar unido pelos laços do matrimônio. Se o Salvador houvesse firmado este dogma, São Paulo não aconselharia no versículo 9 do capitulo sétimo da Primeira Epístola aos Coríntios:
"É melhor casar do que se abrasar."
Como observou o padre Feijó no seu discurso, São Clemente de Alexandria apoiava a atitude de São Paulo. Evocando São Jerônimo, esse padre acentuou: outrora, no alvorecer do Cristianismo, “foram quase sempre preferidos para o sacerdócio os homens casados". Ele também se referiu a São Dionísio, bispo de Corinto, que não deixou o bispo de Gnosa impor a seus companheiros de religião “o pesado jugo do celibato."
Por que Feijó queria que os padres se casassem? É porque muitos padres de sua época, como ocorre nos dias atuais, eram hipócritas, tinham filhos, amantes, concubinas, e assumiam o ar de santos. Basta lembrar que um dos maiores escritores do Brasil, o romancista José de Alencar, havia sido gerado por um sacerdote, o padre José Martiniano Pereira de Alencar. Nascido no Crato, a "capital do Cariri", o pai do autor de “Iracema” recebeu a tonsura no Seminário de Olinda e governou a província do Ceará durante quatro anos, de 1834 a 1837.
O papa Pio II, como informou Feijó, era favorável ao casamento dos padres. Homem enérgico, sem mel na língua, Feijó descreveu o caso do cardeal que foi à Inglaterra, a fim de convencer os padres de um concílio a adotar o celibato. Pois bem, logo depois surpreenderam esse cardeal moralista nos braços de uma prostituta...

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