No ano do centenário do voo do 14-Bis,
aparelho com o qual Santos Dumont provou que é o inventor do avião, se tornou
oportuno mostrar os erros sobre o nosso genial patrício, publicados em livros,
dicionários e enciclopédias.
*
* *
No livro Nosso Brasil, aparecido
em 1936, o escritor Plínio Salgado informou no capítulo “História de balões e
aeroplanos”, a propósito de Santos Dumont:
"Resolveu voar numa nave mais
pesada do que o ar. Construiu o primeiro aeroplano, ao qual deu o nome de Demoiselle."
Plínio Salgado afirma que Santos Dumont
fez isto logo após contornar a Torre Eiffel num balão em forma de charuto, Ora,
tal fato ocorreu no dia 19 de outubro de 1901. com o dirigível nº 6. A vitória lhe deu o Prêmio Deutsch, ele
ganhou a importância de 100.000 francos, mais 25.000, acrescidos de
4.000 de juros, totalizando 129.000 francos, dos quais 50% foram distribuídos
entre seus auxiliares, e os restantes 50%, entre os pobres de Paris.
O primeiro aeroplano de Santos Dumont
não é o Demoiselle, cuja autonomia de voo era de quinze minutos, avião
de 1907, e sim o 14-bis, criado em 1906, que lhe proporcionou a
iniciativa de dirigir o primeiro voo com um aparelho mais pesado do que o ar.
Daí se conclui: o chefe do Integralismo armou uma confusão, ou como diz o povo,
'"trocou as bolas”.
*
* *
A
Enciclopédia do curso secundário, lançada em 1941 pela Editora Globo e organizada por Álvaro Magalhães,
professor da Universidade de Porto Alegre, revela na página 256:
“Em 1906, tendo (Santos Dumont) abandonado
as experiências com aparelhos mais leves do que o ar, conseguiu levantar voo
em seu avião, a Bagatela, recebendo a taça Archdeacon”.
Mais uma trapalhada, como a de Plínio
Salgado. O inventor abiscoitou o prêmio
devido ao 14-bis e não graças à proeza
do inexistente
Bagatela. Quem escreveu o verbete da enciclopédia confundiu o prado de
Bagatelle (onde Santos Dumont realizou o voo de 23 de outubro de 1906),
confundiu esse prado com o famoso 14-Bis, o “Ave de Rapina”, aparelho
cujo motor tinha 50 HP, dois carburadores e 1.500 rotações por minuto.
*
* *
Talvez baseado no erro de Plínio
Salgado, o Diccionário enciclopédico de las Américas, da Editorial
Futuro, de Buenos Aires, obra de 1947, forneceu esta informação sobre Santos
Dumont, na página 608:
“... en 1909 efectuó el primer vuelo con una máquina más
pesada que el aire, el Demoiselle, desde
Saint Cyr a Buc.”
Diante da repetição desse erro, veio à
nossa memória um trecho de Frei Heitor Pinto, o insigne escritor clássico do
século XVI, cuja Imagem da vida cristã é um modelo de pura linguagem e de
elevado estilo:
“Assim como lançando uma pedra em um
grande poço se faz um círculo na água, e dele procede outro maior, e este maior
faz outro mais estendido, após o qual vem outro e outros cada vez maiores quase
em infinito, assim de um erro nasce outro, e este traz outro consigo maior,
após o qual vem outros cada vez maiores quase em infinito, se lhe não atalham
logo ao princípio”.
_______________________
Escritor e
jornalista, Fernando Jorge é autor do livro As lutas, a glória e o martírio
de Santos Dumont, lançado pela HaperCollins.
Nenhum comentário:
Postar um comentário