sábado, 2 de novembro de 2019

QUANTA ROUPA SUJA!


No dia 8 de julho de 2005, a Polícia Federal encontrou 100.000 dólares escondidos sob a cueca de José Adalberto Vieira da Sil­va, assessor do deputado José Nobre Guimarães, do PT do Ceará. Acentuemos que este é irmão de José Genoíno, ex-presidente do PT. Devido a tal fato, Genoíno, sem conter as lágrimas, largou depressa a presidência do seu par­tido.
Pela segunda vez, na história do Brasil, uma humilde cueca provocou escandalosa agitação política. E verdade, amigo leitor, acre­dite. A primeira vez foi em maio de 1949, quando a Câmara Federal decidiu cassar o mandato do deputado Barreto Pinto, do PTB. Um caso de afronta ao decoro parlamentar. Barreto ousou exibir-se de cueca samba-canção para uma reportagem publicada pela revista “O Cruzeiro”, com texto de David Nasser e fotos de Jean Manzon.
Indaguei ao Barreto Pinto em 1970, lá no casarão onde ele vivia, do bairro carioca do Flamengo:
-Por que o senhor se exibiu de cueca para a revista “O Cruzeiro”?
Ele respondeu:
-Fiz isto com o propósito de agradar o meu grande amigo Getúlio Vargas, que queria desmoralizar o Poder Legislativo. Sempre fui grato ao “Baixinho”, pois ele me deu um cartório em 1937.
Barreto desposara uma viúva bilionária, herdeira da imensa fortuna do comendador Martinelli. E parece que era obcecado por cuecas. No ano de 1948, ele escreveu o texto do espetáculo teatral “O mundo em cuecas”, apresentado no Teatro João Caetano do Rio de Janeiro, e do qual par­ticiparam o cômico Colé, a vedete Virginia Lane e a cantora argentina Man­guito.
Um fato é indiscutível: agora a cueca está na moda, ganhou mais fama.
Após a Polícia Federal ter achado os 100.000 dólares na cueca de José Adalberto Vieira da Silva, o senador Eduardo Suplicy, todo sorridente, mostrou a sua carteira aos jornalistas, com alguns caraminguás, e quis saber:
-Vocês também não querem examinar a minha cueca?
Repito, a cueca está na moda. A edição do dia 12 de julho de 2005, do jornal “O Globo”, publicou as seguintes palavras do senhor Germano R. Catanhedes:
“Desde tempos imemoriais, as cuecas, sempre elas, são a peça de vestuário que mais incrimina o homem. Só o irmão do Genoíno não estava informado deste fato de conhecimento público. Eu havia ouvido falar de batom na cueca e outros indícios menos conhecidos, mas igualmente reveladores deixados na peça, mas confesso que foi a primeira vez que soube que cueca poderia ser usada como cofre para dólares.”
A moda da cueca rica pegou. Os camelôs da rua Uruguaiana, no centro do Rio, estão vendendo uma cueca em cujo estampado vemos notas de dólares. É um sucesso e eles gritam:
-Olha a cueca do mensalão! Bem baratinha! Uma beleza!
Antes de toda essa onda em torno da cueca, o Lula, em 1990, lançou esta opinião sobre o Governo Collor:
“Os descamisados vão acabar descuecados.”
Parabéns, Lula, você inventou um novo substantivo, que é
também adjetivo, o descuecado, oriundo de um verbo nascido do seu luminoso engenho, o verbo descuecar, o qual significa perder a cueca ou arrancá-la.
            Concluindo este bate-papo, imploro aos nossos políticos:
            -Percam tudo, até as suas cuecas, mas nunca a honra, se é que vocês a tem!
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Escritor e jornalista, Fernando Jorge é autor do livro As lutas, a glória e o martírio de Santos Dumont, lançado pela HaperCollins.

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