No dia 8 de julho de 2005, a Polícia Federal encontrou 100.000 dólares
escondidos sob a cueca de José Adalberto Vieira da Silva, assessor do deputado José Nobre
Guimarães, do PT do Ceará. Acentuemos que este é irmão de José Genoíno, ex-presidente do
PT. Devido a tal fato, Genoíno, sem conter as lágrimas, largou depressa a
presidência do seu partido.
Pela segunda vez, na história do Brasil, uma humilde cueca
provocou escandalosa agitação política. E verdade, amigo leitor, acredite. A primeira vez
foi em maio de 1949, quando a Câmara Federal decidiu cassar o mandato do
deputado Barreto Pinto, do PTB. Um caso de afronta ao decoro parlamentar.
Barreto ousou exibir-se de cueca samba-canção para uma reportagem publicada
pela revista “O Cruzeiro”, com texto de David Nasser e fotos de Jean Manzon.
Indaguei ao Barreto Pinto em 1970, lá no casarão onde ele
vivia, do bairro carioca do Flamengo:
-Por que o senhor se exibiu de cueca para a revista “O Cruzeiro”?
Ele respondeu:
-Fiz isto com o propósito de agradar o meu grande
amigo Getúlio
Vargas, que queria desmoralizar o Poder Legislativo. Sempre fui grato ao
“Baixinho”, pois ele me deu um cartório em 1937.
Barreto desposara uma viúva bilionária, herdeira da imensa
fortuna do comendador Martinelli. E parece que era obcecado por cuecas. No ano de
1948, ele escreveu o texto do espetáculo teatral “O mundo em cuecas”,
apresentado no Teatro João Caetano do Rio de Janeiro, e do qual participaram o cômico Colé,
a vedete Virginia Lane e a cantora argentina Manguito.
Um fato é indiscutível: agora a cueca está na moda,
ganhou mais fama.
Após a Polícia Federal ter achado os 100.000 dólares na
cueca de José Adalberto Vieira da Silva, o senador Eduardo Suplicy, todo
sorridente, mostrou a sua carteira aos jornalistas, com alguns caraminguás, e quis saber:
-Vocês também não querem examinar a minha cueca?
Repito, a cueca está na moda. A edição do dia 12 de julho de 2005,
do jornal “O Globo”, publicou as seguintes palavras do senhor Germano R.
Catanhedes:
“Desde tempos imemoriais, as cuecas, sempre elas, são a
peça de vestuário que mais incrimina o homem. Só o irmão do Genoíno não estava informado deste fato de
conhecimento público. Eu já havia
ouvido falar
de
batom na cueca e outros indícios menos conhecidos, mas igualmente reveladores
deixados na peça, mas confesso que foi a primeira vez que soube que cueca
poderia ser usada como cofre para dólares.”
A moda da cueca rica pegou. Os camelôs da rua Uruguaiana,
no centro do Rio, estão vendendo uma cueca em cujo estampado vemos notas de dólares. É
um sucesso e eles gritam:
-Olha a cueca do mensalão! Bem baratinha! Uma beleza!
Antes de toda essa onda em torno da cueca, o Lula, em 1990,
lançou esta opinião sobre o Governo Collor:
“Os descamisados vão acabar descuecados.”
Parabéns, Lula, você inventou um novo substantivo, que é
também
adjetivo, o descuecado, oriundo de um verbo nascido do seu luminoso engenho, o
verbo descuecar, o qual
significa
perder a cueca ou arrancá-la.
Concluindo
este bate-papo, imploro aos nossos políticos:
-Percam
tudo, até as suas cuecas, mas nunca a honra, se é que vocês a tem!
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Escritor e jornalista,
Fernando Jorge é autor do livro As lutas, a glória e o martírio de Santos
Dumont, lançado pela HaperCollins.
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