Não
sou puritano nem moralista. Aliás, conheci puritanos e moralistas idênticos aos
escribas e fariseus, assim descritos por Jesus Cristos no versículo 27 do
capítulo 23 do Evangelho de São Mateus:
“Ai
de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Sois semelhantes a sepulcros caiados,
que por fora parecem belos, mas por dentro estão cheios de ossos de mortos e de
toda podridão. Também vós, por fora, pareceis justos aos homens, mas por dentro
estais cheios de hipocrisia e de iniquidade.”
Portanto,
sem me arvorar em paladino da moral pública, olho com espanto o crescente
fenômeno da imoralidade no Brasil. Certo dia, no tempo do regime militar,
durante o governo do general Médici (Médici ou Mude-se!), eu liguei a minha
televisão e vi o Nelson Rodrigues sendo entrevistado por várias moças bem
bonitas. Eram misses, a Miss Goiás, a Miss Bahia, a Miss Santa Catarina, etc.
Uma delas, se não me engano a Miss Brasil, fez esta pergunta ao dramaturgo:
-Nelson,
você é a favor ou contra a virgindade na mulher?
Gesticulando
e com voz firme, o autor da peça Vestido
de noiva respondeu:
-Sou
a favor da virgindade na mulher, furiosamente a favor!
As
moças caíram em cima do Nelson, zombaram dele, vaiaram:
-Como
você é atrasado, Nelson Rodrigues! Você é careta, quadrado, precisa evoluir!
Indignadas,
protestavam contra a sua opinião. Eu pensei: meu Deus, a escolha da virgindade
é um direito, não é um pecado, uma vergonha. E me convenci de que se iniciava
no Brasil uma fase do apodrecimento moral, de apologia da sexualidade bruta.
Logo fui obtendo as provas de haver acertado no prognóstico. Vou evocar fatos
mais recentes, comprobatórios.
Ancelmo
Gois, na sua coluna de O Globo
(edição de 4-7-2012), contou que o deputado Átila Nunes, no restaurante Ettore
da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, leu no cardápio o nome, de um prato
chamado Ficaccia. Ora, este nome, em
italiano, significa “vagina grande”. Vejam, inclusive nos cardápios dos
restaurante do nosso país, aparece a sexualidade forte, exacerbada!
Consulto
os recortes de jornais do meu arquivo, pois gosto de documentar tudo. E leio na
coluna de Leonardo Ferreira, do jornal carioca Extra (edição de 17-3-2013), o seguinte sobre a paraense Kamilla,
participante do programa Big Brother Brasil 13:
“Até
o fechamento desta reportagem, Kamilla ainda tinha dúvida do tamanho do órgão
sexual do namorado...”
Na
edição de 6 de março de 2013, o referido periódico divulgou esta notícia, sobre
outra participante do programa:
“Natália
não está aguentando ficar sem sexo na casa do BBB. A seca está deixando a
sister muito irritada –Tô ficando louca”.
O
jornal Mais, de São Paulo (edição de
22-3-2013), deu informações sobre o BBB 13:
“Andressa
e Fernanda tiveram uma discussão estranha na madrugada de ontem. Elas
especularam o tamanho do pênis de Nasser.”
Guardei
outra notícia, publicada na mesma edição do Mais:
“Depois
de uma noite pra lá de animada na ‘Festa Crazy’, Andressa chamou Nasser para se
deitar com ela na cama. Após ouvir um não do gaúcho, que preferiu ir ao ofurô,
a paranaense não gostou de ter o convite negado e disparou contra o amado –É
uma bichona!”
Ainda do Mais
(edição de 27-6-2013), conservei este recorte:
“Vencedora
do BBB 11, Maria Mellilo declarou recentemente que nunca ficou sem sexo.
Inclusive, quando estava confinada na casa do reality show. Quem foi pra de baixo do edredon com Maria foi o
médico Wesley Schunk –Fizemos sexo várias vezes. A gente sabe fazer muito bem
feito. Valeu a pena. Ele é mineiro, come quieto... –Nunca fiquei sem sexo. Nem
mesmo dentro do BBB – declarou.”
Quanta
pureza! E continua o nosso lindo desfile de ereções, das fomes venéreas, das
vulvas satisfeitas e insatisfeitas...
A
atriz Suzana Vieira, com apenas 70 anos, confessou à repórter Laís Rissato:
“Tenho
vivacidade sexual fora do normal. Desde mocinha acho uma delícia transar”
(revista Quem acontece, de
21-6-2013).
Clara
Aguillar, participante do Big Brother Brasil 14, resolveu colocar na Internet
uma foto de sua pessoa, vestida de Santa Clara e exibindo, apalpando fora da
roupa, os seios moles, enormes, monstruosos. No seu rosto a expressão de quem
goza, de quem se entrega a um indescritível orgasmo animalesco.
Essa
foto obscena revoltou a freira Maria Pacífica, madre superiora do Convento de
Santa Clara, situado no bairro carioca da Gávea:
-É
um absurdo, um atentado à fé, aos sentimentos dos cristãos. As irmãs Clarissas
vivem uma vida de clausura, dedicada de modo total à oração, à castidade.
É
triste, amigo leitor, contemplar o fedorento desfile das mulheres excitadas
aqui citadas (rimou!), o fanatismo sexual da buliçosa Susana Vieira e de outras
sexomaníacas. Uma sexóloga com cara de vaca prenhe, ou melhor, uma putologa,
garantiu num programa da TV Bandeirantes:
-O
amor como era antes, não existe mais, pois estamos na época do pluriamor.
A
putologa dissertou sobre esse tal pluriamor. Qualquer mulher casada, por
exemplo, vai a um shopping center, onde vê um rapaz simpático, musculoso, de
aspecto viril. Atraídos um pelo outro, ambos vão para um motel e fornicam. A
esposa volta ao lar, tranquila, e nem precisa dizer nada ao marido. Eis o
pluriamor, explicou a putologa. Pluriamor? Não! Pluriputaria!
Resultado
desse culto delirante à fornicação sem freios: o crescer cada vez maior das
uniões efêmeras, a destruição do casamento, da família. E ela, a família, é “a
célula da sociedade”, como a definiu Lenin. Destruída esta célula, a sociedade
é destruída. Sociedade destruída, nação destruída.
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Escritor e
jornalista, Fernando Jorge é autor de “Drummond e o elefante Geraldão”,
que acaba de ser lançado pela Editora Novo Século e cuja primeira edição já
está quase esgotada.
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