Três amigos do Ar: Henri Farman, Santos-Dumont e Gabriel Voisin, num encontro em 1928 para comemorar um voo histórico de Farman, 20 anos antes. Fonte: www.elfikurten.com.br |
A
enciclopédia O mundo do saber, planejada como uma “Bíblia familiar”,
segundo frisa James Mitchell no prefácio desta obra, já foi traduzida para vários
idiomas, inclusive para o sueco, o turco, o grego e o japonês. Publicada no
Brasil pela Editora Delta, sob a supervisão de Elias Davidovich, ela assegura
na página 414 do 2º volume:
“... o lugar de Santos Dumont na
história está garantido pelo fato de que seu aparelho foi a primeira máquina
controlável e mais pesada que o ar a alçar voo, em 1904”.
Um erro idêntico ao da Novíssima
Enciclopédia Delta Larousse. Em 1904, Santos Dumont ainda se preocupava com
a dirigibilidade dos balões. Levou o Nº 7, por exemplo, a uma competição internacional
de Saint Louis, que ia realizar-se nos meados daquele ano. E meses depois, em
31 de dezembro, o seu dirigível Nº 13, salienta Charles Dolfuss, acabou sendo
destruído por um golpe de vento.
O aeroplano 14-bis, no ano de 1904,
encontrava-se bem longe, no universo das coisas invisíveis, pois só em julho
de 1906 começou a sair das mãos de Santos Dumont.
* * *
A enciclopédia Ciência, da
Raintree Publishers dos Estados Unidos, no volume 7 da sua edição brasileira,
lançada pela Editora Abril, apresenta os seguintes fatos na página 1.632:
I)Santos Dumont encomendou um balão à firma
Lechambre e Machuson, de Paris.
Está errado. O nome da firma era
Lachambre e Machuron e não Lechambre e Machuson. Consultar a página 216 do
número 2.901 de L'Illustration, de 1º de outubro de 1898, e a
página 105 do volume LVI da Revista do Instituto Histórico e Geográfico de
São Paulo, do ano de 1959.
II) No dia 12 de outubro de 1901, o
inventor venceu o Prêmio Deutsch de La Meurthe e obteve 100.000 franco.
Está errado. Santos Dumont ganhou a
recompensa depois, com o vôo do dia 19 de outubro. Ganhou o prêmio, ele não
venceu o prêmio. E este não foi de 100.000 e sim de 129.000 francos.
III) Comandando o 14-bis, o aeronauta
conseguiu realizar um vôo de 220
metros, a 2 metros de altura, em 23 de outubro de 1906.
Está errado. O voo de 220 metros, a quase 7 metros de altura e não a
2, no campo de Bagatelle, efetuou-se no dia 12 de novembro. Em 23 de outubro, o
14-bis percorreu 60 metros,
a 3 metros
de altura.
* * *
O
“Pai da Aviação” enforcou-se, em Santos, no dia 23 de julho de 1932, com um
laço de sua gravata, mas eis uma frase que não expressa a verdade:
“Santos Dumont mata-se à bala, em 1932,
por causa de seu invento”.
Estas palavras podem ser lidas na página
210 do volume Suicídio típico de 1954, da autoria de dois advogados:
Américo Marco Antônio e Eloy Franco Oliveira. O livro é sobre a causa jurídica
da morte de Sônia Sampaio Pereira Mendes, um fato que agitou a sociedade
paulista em 1953, quando Theotonio Piza de Lara sofreu a acusação de haver
assassinado uma bela jovem.
Este
erro a respeito do fim de Santos Dumont, que ele se matou com um tiro de
revólver, não
é da lavra dos dois advogados. É da sentença de impronúncia do réu, publicada
no livro e proferida pelo dr. Waldemar da Silveira, juiz de Direito em
exercício na Vara Auxiliar do Júri, naquele ano de 1954.
_______________________
Escritor e
jornalista, Fernando Jorge é autor do livro As lutas, a glória e o martírio
de Santos Dumont, lançado pela HaperCollins.
Nenhum comentário:
Postar um comentário