sexta-feira, 12 de junho de 2020

NINGUÉM FUZILA A VERDADE


Três amigos do Ar: Henri Farman, Santos-Dumont e Gabriel Voisin,
num encontro em 1928 para comemorar um
voo histórico de Farman, 20 anos antes.
Fonte: www.elfikurten.com.br
A enciclopédia O mundo do saber, planejada como uma “Bíblia familiar”, segundo frisa James Mitchell no prefácio desta obra, já foi traduzida para vá­rios idiomas, inclusive para o sueco, o turco, o grego e o japonês. Publicada no Brasil pela Editora Delta, sob a supervisão de Elias Davidovich, ela assegura na página 414 do 2º volume:
“... o lugar de Santos Dumont na história está garantido pelo fato de que seu aparelho foi a primeira máquina controlável e mais pesada que o ar a alçar voo, em 1904”.
Um erro idêntico ao da Novíssima Enciclopédia Delta Larousse. Em 1904, Santos Dumont ainda se preocupava com a dirigibilidade dos balões. Levou o Nº 7, por exemplo, a uma competição internacional de Saint Louis, que ia realizar-se nos meados daquele ano. E meses depois, em 31 de dezembro, o seu dirigível Nº 13, salienta Charles Dolfuss, acabou sendo destruído por um golpe de vento.
O aeroplano 14-bis, no ano de 1904, encontrava-se bem longe, no uni­verso das coisas invisíveis, pois só em julho de 1906 começou a sair das mãos de Santos Dumont.

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A enciclopédia Ciência, da Raintree Publishers dos Estados Unidos, no volume 7 da sua edição brasileira, lançada pela Editora Abril, apresenta os seguintes fatos na página 1.632:
I)Santos Dumont encomendou um balão à firma Lechambre e Machuson, de Paris.
Está errado. O nome da firma era Lachambre e Machuron e não Lechambre e Machuson. Consultar a página 216 do número 2.901 de L'Illustration, de 1º de outubro de 1898, e a página 105 do volume LVI da Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, do ano de 1959.
II) No dia 12 de outubro de 1901, o inventor venceu o Prêmio Deutsch de La Meurthe e obteve 100.000 franco.
Está errado. Santos Dumont ganhou a recompensa depois, com o vôo do dia 19 de outubro. Ganhou o prêmio, ele não venceu o prêmio. E este não foi de 100.000 e sim de 129.000 francos.
III) Comandando o 14-bis, o aeronauta conseguiu realizar um vôo de 220 metros, a 2 metros de altura, em 23 de outubro de 1906.
Está errado. O voo de 220 metros, a quase 7 metros de altura e não a 2, no campo de Bagatelle, efetuou-se no dia 12 de novembro. Em 23 de outubro, o 14-bis percorreu 60 metros, a 3 metros de altura.

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O “Pai da Aviação” enforcou-se, em Santos, no dia 23 de julho de 1932, com um laço de sua gravata, mas eis uma frase que não expressa a verdade:
“Santos Dumont mata-se à bala, em 1932, por causa de seu invento”.
Estas palavras podem ser lidas na página 210 do volume Suicídio típico de 1954, da autoria de dois advogados: Américo Marco Antônio e Eloy Franco Oliveira. O livro é sobre a causa jurídica da morte de Sônia Sampaio Perei­ra Mendes, um fato que agitou a sociedade paulista em 1953, quando Theotonio Piza de Lara sofreu a acusação de haver assassinado uma bela jovem.
Este erro a respeito do fim de Santos Dumont, que ele se matou com um tiro de revólver, não é da lavra dos dois advogados. É da sentença de impronúncia do réu, publicada no livro e proferida pelo dr. Waldemar da Silveira, juiz de Direito em exercício na Vara Auxiliar do Júri, naquele ano de 1954.
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Escritor e jornalista, Fernando Jorge é autor do livro As lutas, a glória e o martírio de Santos Dumont, lançado pela HaperCollins.

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