domingo, 5 de janeiro de 2020

A corruptite é uma doença crônica e antiga do Brasil


Mensário muito bem feito, o Página Central, dirigido pelo dinâmico e talentoso Miguel de Almeida, atual comandante da Editora Lazuli, apresentou no seu número 8, de agosto de 1998, um artigo de minha autoria com este título:
“O outro nome do Brasil é Corruptolândia”.
Eis o começo do artigo:
“Garanto, é isto mesmo, o outro nome do Brasil é Corruptolândia, e desde a época colonial o nosso regime nunca teve o aspecto de uma democracia e sim de uma corruptocracia ou de uma canalhocracia. Foi por esta razão que Mário de Andrade lançou, em 1928, o seu Macunaína, o herói sem nenhum caráter, livro em que o personagem principal, Macunaína, nome colhido na obra etnólogo Koch Grimberg, não está submetido a leis, normas ou códigos de ética”.
Depois acrescentei:
“A sociedade brasileira, liberta dos rígidos padrões morais dos povos anglo-saxônicos e do puritanismo dos quakers, gerou o canalha impante e atuante em vários setores, sobretudo no setor público. O canalha satisfeito, vitorioso, ávido por riquezas, e que quanto mais ganha o cobre, mais quer ganhar. Gerou o canalha que na vida pública é capaz de fazer tudo por dinheiro, até de praticar uma boa ação. Utilizei-me da frase de Rivarol sobre o venalíssimo Mirabeau”.
Eu disse no artigo que a corruptite é uma doença antiga do Brasil, mas ela não prejudica os que carregam o seu vírus no sangue, pois só causa danos ao povo, à massa sofrida dos trabalhadores mal-remunerados, a uma gente pobre e injustiçada.
Quase dez anos após a publicação do meu texto no mensário do Miguel de Almeida, o nosso país continua enfermo, vítima da corruptite. Doença crônica da nacionalidade, contra a qual ainda não apareceu um eficaz medicamento. Limitar-me-ei a exibir os fatos.
Se tivéssemos um remédio fulminante para eliminar a corruptite, o senador Epitácio Cafeteira, do PTB, não estaria até agora respondendo a processo no Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão, por gastos ilícitos e captação irregular de recursos financeiros, durante a campanha eleitoral de 2006.
Se tivéssemos um remédio fulminante para eliminar a corruptite, o senhor Raimundo Colombo, do DEM, não estaria até agora respondendo a três processos no Tribunal de Justiça de Santa Catarina, dois por improbidade administrativa e um por irregularidades numa concorrência pública.
Se tivessemos um remédio fulminante para eliminar a corruptite, o senador Valdir Raupp, do PMDB de Roraima, não estaria até agora respondendo a ação penal por peculato, no Supremo Tribunal Federal.
Se tivessemos um remédio fulminante para eliminar a corruptite, o senhor Flexa Ribeiro, do PSDB, não estaria até agora respondendo a dois processos no Supremo Tribunal Federal, um por fraude em licitação, no Amapá, e o outro pelo motivo de ter recebido, irregularmente, valendo-se de sua empreiteira, a Engeplan, a quantia de 20 milhões de reais do governo do Pará.
Se tivéssemos um remédio fulminante para eliminar a corruptite, o senador César Borges, do DEM, ex-governador da Bahia, não estaria até agora respondendo a processos por indevido uso eleitoral da publicidade oficial.
Se tivéssemos um remédio fulminante para eliminar a corruptite, o deputado Leomar Quintanilha, do PMDB de Tocantins, não estaria até agora respondendo a processo por crime tributário e desvio de verbas.
Vou parar aqui, senão isto não tem fim.
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Membro do Conselho de Ética do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, o escritor e jornalista, Fernando Jorge é autor do romance “O grande líder”, sátira contra os nossos políticos corruptos, cuja 5ª edição foi lançada pela Geração Editorial.

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