Mensário muito bem feito, o Página Central, dirigido pelo dinâmico
e talentoso Miguel de Almeida, atual comandante da Editora Lazuli, apresentou
no seu número 8, de agosto de 1998, um artigo de minha autoria com este título:
“O outro nome do Brasil é Corruptolândia”.
Eis o começo do artigo:
“Garanto, é isto mesmo, o outro nome do Brasil
é Corruptolândia, e desde a época colonial o nosso regime nunca teve o aspecto
de uma democracia e sim de uma corruptocracia ou de uma canalhocracia. Foi por
esta razão que Mário de Andrade lançou, em 1928, o seu Macunaína, o herói sem nenhum caráter, livro em que o personagem
principal, Macunaína, nome colhido na obra etnólogo Koch Grimberg, não está
submetido a leis, normas ou códigos de ética”.
Depois acrescentei:
“A sociedade brasileira, liberta dos rígidos
padrões morais dos povos anglo-saxônicos e do puritanismo dos quakers, gerou o
canalha impante e atuante em vários setores, sobretudo no setor público. O
canalha satisfeito, vitorioso, ávido por riquezas, e que quanto mais ganha o
cobre, mais quer ganhar. Gerou o canalha que na vida pública é capaz de fazer
tudo por dinheiro, até de praticar uma boa ação. Utilizei-me da frase de
Rivarol sobre o venalíssimo Mirabeau”.
Eu disse no artigo que a corruptite é uma
doença antiga do Brasil, mas ela não prejudica os que carregam o seu vírus no
sangue, pois só causa danos ao povo, à massa sofrida dos trabalhadores
mal-remunerados, a uma gente pobre e injustiçada.
Quase dez anos após a publicação do meu texto
no mensário do Miguel de Almeida, o nosso país continua enfermo, vítima da
corruptite. Doença crônica da nacionalidade, contra a qual ainda não apareceu
um eficaz medicamento. Limitar-me-ei a exibir os fatos.
Se tivéssemos um remédio fulminante para
eliminar a corruptite, o senador Epitácio Cafeteira, do PTB, não estaria até
agora respondendo a processo no Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão, por
gastos ilícitos e captação irregular de recursos financeiros, durante a
campanha eleitoral de 2006.
Se tivéssemos um remédio fulminante para
eliminar a corruptite, o senhor Raimundo Colombo, do DEM, não estaria até agora
respondendo a três processos no Tribunal de Justiça de Santa Catarina, dois por
improbidade administrativa e um por irregularidades numa concorrência pública.
Se tivessemos um remédio fulminante para
eliminar a corruptite, o senador Valdir Raupp, do PMDB de Roraima, não estaria
até agora respondendo a ação penal por peculato, no Supremo Tribunal Federal.
Se tivessemos um remédio fulminante para
eliminar a corruptite, o senhor Flexa Ribeiro, do PSDB, não estaria até agora
respondendo a dois processos no Supremo Tribunal Federal, um por fraude em
licitação, no Amapá, e o outro pelo motivo de ter recebido, irregularmente,
valendo-se de sua empreiteira, a Engeplan, a quantia de 20 milhões de reais do
governo do Pará.
Se tivéssemos um remédio fulminante para eliminar
a corruptite, o senador César Borges, do DEM, ex-governador da Bahia, não
estaria até agora respondendo a processos por indevido uso eleitoral da
publicidade oficial.
Se tivéssemos um remédio fulminante para
eliminar a corruptite, o deputado Leomar Quintanilha, do PMDB de Tocantins, não
estaria até agora respondendo a processo por crime tributário e desvio de
verbas.
Vou parar aqui, senão isto não tem fim.
______
Membro do
Conselho de Ética do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, o escritor e jornalista,
Fernando Jorge é autor do romance “O grande líder”, sátira contra os nossos
políticos corruptos, cuja 5ª edição foi lançada pela Geração Editorial.
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