Professor da Universidade de Munique, o arguto Justus von
Liebig (1803-1873) descobriu o método de transformar o álcool em ácido acético,
de maneira instantânea. Esse notável químico alemão é o autor da seguinte
frase:
“O
progresso dos povos se pode avaliar pelo consumo de sabão.”
Liebig,
a quem a Ciência também deve a descoberta da preparação artificial do ácido
tartárico, achava que quanto mais uma pessoa usa a água para eliminar a sujeira
do seu corpo, mais civilizada ela é. E fica mais sadia, acrescento, pois um
velho provérbio garante:
“Água e
sabão, fazem o homem são.”
Bourdeau
informa, na “Histoire de L “ habillement et de la parure”: o rei Luis
XIV, da França, só tomou um banho durante toda a sua vida. Aliás, vejam outro
absurdo. Médico famoso da Idade Média, o doutor Gazius se atreveu confessar:
“...o uso dos banhos é um prazer, não
destituído de perigo. Talvez seria melhor não falar sobre o medo de cheirar
mal. Eu, que nunca tomei um banho, sinto-me muito bem, graças a Deus”
Insigne historiador, Michelet comenta,
ao evocar aquela época:
"Nem um banho durante mil anos! A sociedade da Idade
Média temia a ablução como um pecado e é triste pensar que todos esses
esbeltos cavaleiros, todas essas damas etéreas, Tristão, Parsifal, Isolda, não
se lavavam nunca!"
Os
monges do Mosteiro dos Carmelitas, na cidade de Pádua, do norte da Itália,
também não gostavam de tomar banho. Assim procediam para castigar a carne,
vista por eles como a origem de todos os nossos males, de todas as nossas
imperfeições. Sempre exalavam odores nauseabundos e cumprimentá-los,
pedir-lhes a benção, era torturar o olfato. Após visitar o referido mosteiro,
um viajante declarou:
"Nunca
pude compreender porque há homens que se reúnem para feder juntos, em honra de
um Deus que criou noventa mil espécies de flores."
D. João
VI, refugiado no Brasil, não tomava banho. As suas ceroulas caiam apodrecidas e
ele metia nos seus bolsos engordurados, sem parar, as coxinhas de frango que
mastigava com gula insaciável. Imaginem como esse homem fedia... Patrício do
rei português, o doutor Baleisão era bem porco. Certa senhora ousou aludir,
diante dele, à sua falta de higiene. Assumindo um ar grave, o doutor Baleisão
respondeu:
-Pois, minha excelente senhora, de tomar
banho tem morrido muita gente, e de porcaria nunca ninguém morreu!
Mas D. João VI, no tempo do
Brasil-Reino, não foi o único que detestava a água. Rose de Freycinet
(1794-1832), escritora francesa, visitou o nosso país nessa época e descreveu a
imundice do Rio de Janeiro, a qual atingia o auge entre os nobres:
“Uma dama nobre que acabava de tomar uma
criada de quarto francesa, quase a pôs fora de casa só porque esta lhe
oferecia um vaso cheio de água para lavar as mãos. Em cólera, disse-lhe a mesma
dama que uma pessoa de sua qualidade não tinha nunca necessidade de lavar as
mãos, atendendo a que nada de sujo tocava, e que isso de lavar era bom para os
criados e o povo.”
Luiz
Edmundo colocou estas palavras de Rose de Freycinet no seu livro “O Rio de
Janeiro no tempo dos vice-reis”, publicado em 1932 pela Imprensa Nacional. A
descrição de Rose mostra o horror à água daquelas pessoas. E se a frase de
Liebig expressa a verdade – “O progresso dos povos se pode avaliar pelo consumo
de sabão” - o brasileiro evoluiu extraordinariamente, quanto à higiene, pois ao
contrário de milhares de europeus, adora tomar banho...
_______________________
Escritor e
jornalista, Fernando Jorge é autor do livro As lutas, a glória e o martírio
de Santos Dumont, lançado pela HaperCollins.
Nenhum comentário:
Postar um comentário