Gabriel H.
Kwak, com o livro O trevo e a vassoura: os destinos de Jânio Quadros e
Adhemar de Barros, prova que é um ensaísta admirável. Dono de estilo
límpido e fluente, ele magnetiza o leitor desde a primeira até a última página
da sua obra. Sim, magnetiza, pois tudo que narra, que evoca, que comenta, é
curioso, inédito, muito interessante. O estilo de Gabriel nos traz à memória a
seguinte frase de Voltaire, colocada no prefácio da comédia L'enfant
prodigue:
"Todos
os gêneros são bons, exceto o gênero tedioso.”
("Tous les genres sont bons, hors le genre
ennuyeux”).
Para
escrever esta obra ricamente documentada, o autor entrevistou 114 pessoas.
Colheu os depoimentos de ex-secretários de Estado, como Erasmo Dias. e Raphael
Baldacci; de ex-ministros, como Delfim Netto e Jarbas Passarinho; de
ex-governadores, como Paulo Egydio e Laudo Natel; de políticos prestigiosos,
como Mário Beni, Gastone Righi, Farabulini Júnior, João Mellão Neto e José
Aparecido de Oliveira; de expoentes da nossa imprensa, como Mino Carta, Israel
Dias Novaes, Marcelo Coelho, Ruy Marcucci, Carlos Brickmann, João de
Scantimburgo, José Yamashiro. E fato digno de ser salientado: a copiosa
documentação, em nenhum momento, prejudicou a fluidez da linguagem de Gabriel
H. Kwak, não a tornou pesada, indigesta. Pelo contrário, fez o texto ficar
ainda mais leve e atraente.
Gabriel
adotou o método do inglês Lytton Strachey, o arguto biógrafo das figuras da era
vitoriana. Lytton mostrou isto nos seus livros: do conjunto de pormenores, da
arte de apresentar certos episódios aparentemente insignificantes, nasce a
visão geral de tudo, o quadro completo de uma vida multifacetada. Como disse B.
Ifor Evans, em A short history of english literature, o minucioso Lytton
Strachey quebrou a tradição das "biografias piedosas" do século XIX.
À semelhança de Fustel de Coulanges, o fundador da ciência histórica na França,
esse biógrafo da pátria de Churchill achava que o começo da pesquisa, no setor
da História, consiste em duvidar, verificar e procurar.
Outra coisa não tem feito, nas suas notáveis investigações de assíduo frequentador de arquivos e bibliotecas, o brasileiro Gabriel H. Kwak,
jornalista, historiógrafo, professor, autor de excelentes artigos publicados
nas revistas IMPRENSA e Cultura do Direito, esta da Fundação Getúlio
Vargas.
Gabriel
revela, na "Nota explicativa”, que se inspirou no exemplo das Vidas
paralelas de Plutarco, obra na qual este descreve a existência de 46 homens
célebres, gregos e romanos. Sob o estimulo de ardente amor às minúcias, Lytton
Strachey deve ter haurido inspiração em Plutarco.
Saboreando as deliciosas minúcias do livro de Gabriel H. Kwak, eu
experimentei a impressão de ver outra vez, na minha frente, o meu amigo Jânio
da Silva Quadros, de quem fui confidente. Ele, Jânio, parece saltar das páginas
desta obra, como se estivesse vivo. A figura aqui descrita de Adhemar de Barros,
que frequentava a casa do meu pai, Salomão Jorge, líder na Assembleia
Legislativa de São Paulo, causa-me a mesma impressão. É a força do talento de
Gabriel H. Kwak. O seu fascinante ensaio confirma o juízo de Ramalho Ortigão,
expresso no volume III de As farpas:
“Uma biografia não pode ser outra coisa senão a
investigação a posteriori das influências biológicas e sociais que,
incidindo no individuo, determinam a série de movimentos a cujo conjunto se
chama um destino.”
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