É
verdade, meu filho matou o Paulo Francis. Como se chama esse meu filho?
Chama-se Vida e obra do plagiário Paulo
Francis, livro de minha autoria, lançado pela Geração Editorial no ano de
1996. Saiu agora a sua terceira edição, revista e aumentada.
Desde
1980, quando o Francis residia em Nova York, como correspondente da Folha de S.Paulo, eu alimentei o projeto
de escrever um livro para o destruir culturalmente, jornalisticamente. E
consegui.
Cláudio
Abramo, meu amigo íntimo, conhecia tal projeto. Era muito grato a mim, pois
após brigar em 1963 com os Mesquitas de O
Estado de S.Paulo, no qual exercia as funções de secretário de redação,
ficou sem dinheiro, e eu pude ajudá-lo, arrumando para ele, numa poderosa
editora, a lucrativa tarefa de traduzir dezenas de livros do inglês. Dois anos
depois, em 1965, Cláudio ingressa na Folha
de S.Paulo, onde se tornaria o responsável por uma completa e modernizadora
reforma gráfica. Sempre reconhecido, generoso, fez a Folha publicar uma reportagem sobre as minhas críticas ao
historiador Augusto de Lima Júnior, que afirmou: o Aleijadinho é uma lenda, uma
farsa, nunca existiu (reportagem da edição de 31-10-1966). Biógrafo do genial
escultor mineiro, pulverizei o disparate do Júnior. Aliás, devo ao Cláudio
Abramo a divulgação, no referido jornal, de quatro notícias providas de fotos
de bom tamanho, sobre o meu romance satírico O grande líder (edições de 21-12-1969, de 1-2-1970, de 5-4-1970 e
de 20-9-1970).
Certa
noite quente de verão, visitei o Cláudio na redação da Folha de S.Paulo e ele me convidou a ir a um bar da sede do jornal,
com o objetivo de saborearmos um sorvete. Lá no bar, ele me disse:
-Fernando,
você está vendo aquele fulano?
Apontou-me
um sujeito gorducho, balofo. Respondi que sim. Cláudio esclareceu:
-Esse
fulano é redator da Folha, adora o
Paulo Francis, mostra-se fanático por ele, e soube que você vai escrever um
livro contra o seu ídolo.
O
sujeito nos viu e se aproximou. Notei que se achava algo bêbado. Grunhiu na
minha frente:
-Você
é o Fernando Jorge?
Confirmei.
Ele, semelhante a um porco, cuinchou como perfeito suíno:
-Eu
te odeio, quero te matar, te estrangular, porque você pretende bater no meu
adorado Paulo Francis!
A
fera parecia mesmo um suíno e além da cara de porco, tinha chulé de boca. Meio
tonto, acrescentou, sob o olhar divertido do Cláudio Abramo:
-Saiba
de uma coisa, jamais um redator da Folha
vai comentar o seu livro contra o Paulo Francis! Jamais! Never, never, digo em
inglês! Impedirei que isto aconteça!
De
modo leve, rindo, Cláudio Abramo o empurrou, protegendo-me da agressividade do
suíno alcoolizado, que ao se afastar não se conteve:
-Paulo
Francis é tudo, everythig, e você,
Fernando Jorge, é nada, nothing!
Se
esse quadrúpede é ainda redator da Folha
de S.Paulo, fico a imaginar como deve se sentir ao ler, na contracapa da
terceira edição de Vida e obra do
plagiário Paulo Francis, estas palavras de Irene Solano Vianna, ex-editora
da Folha, a respeito do livro,
opinião expressa em 22 de março de 1997:
“Os exemplos levantados por Fernando Jorge são
incontestáveis, bem documentados: o senhor Paulo Francis escrevia mal, plagiava
sobretudo citações e ideias, errava feio nas ostentações de sua pseudo
cultura... Não tinha compromisso algum com a exatidão dos fatos ou respeito
pela honra e dignidade alheias”.
Salienta
Luís Eblak, também da Folha de S.Paulo,
num artigo aparecido na edição de 22 de maio de 2010 desse jornal: o meu
trabalho “é a grande crítica publicada em livro durante a vida de Francis”.
Percorrendo o texto do Eblak, fiz uma pergunta. Cadê a promessa do seu colega,
de que jamais um redator da Folha
comentaria o livro? Cadê?
Logo
após o lançamento da primeira edição de Vida
e obra do plagiário Paulo Francis, conforme me informou José Maria Homem de
Montes, diretor de O Estado de S.Paulo,
houve uma reunião nesse jornal, pois provei o seguinte no livro: Francis,
colaborador do Estadão (ocupava nele
uma página inteira), era racista como Hitler, plagiário, difamador, apedeuta,
autor de textos repletos de cretinices, de incongruências, de erros palmares de
português. Um dos diretores do matutino propôs na reunião:
-Sugiro
dar meia página do nosso jornal para o Fernando Jorge apresentar as acusações,
e também meia página ao Paulo Francis, a fim de se defender.
Mas
outro diretor se opôs:
-Desculpe,
não concordo. Cometeríamos um erro. Examinei o livro do Fernando. A
documentação do volume é diabólica, esmagadora, indestrutível. O Francis
perderia. Além disso o acusador, ganhando, iria vender ainda mais o livro.
José
Maria Homem de Montes, meu amigo e um dos diretores de O Estado de S.Paulo, descreveu-me essa reunião.
Depois
do falecimento do Paulo Francis, a jornalista Sônia Nolasco, sua esposa,
telefonou de Nova York para o Luiz Fernando Emediato, editor do livro, e
declarou:
-Viu
o que você fez, Emediato? Você fez o Fernando Jorge matar o meu marido!
Segundo
correu, o Francis se instalara no seu banheiro nova-iorquino, lendo o meu livro
contra ele, no momento em que teve o enfarte.
“Filósofo”
entre aspas, Olavo de Carvalho defecou, com cólicas mentais, um intestinal
livro fedorento, intitulado O imbecil coletivo.
Neste há onze páginas de ataques a Vida e
obra do plagiário Paulo Francis. Ele me chamou de “galo de bigodes”. Antes
ser, porém, “galo de bigodes” do que pensador raquítico, um pintinho de
perninhas frágeis, como é sem dúvida o autor do livreco. Se um dia uma ideia
habitar realmente a sua cabecinha, o subfilósofo Olavinho Pintinho de
Carvalhinho poderá morrer de congestão cerebral...
Alberto Dines, um dos fundadores do Labjor na Unicamp,
do Laboratório dos Estudos Avançados de Jornalismo, garantiu em 1997, numa
entrevista concedida ao Correio Popular
de Campinas: a minha obra causou a morte do Paulo Francis. Ora, se sou pai de
um homicida, desejo então saber se o meu filho deve ser fuzilado, ou enforcado,
ou condenado à prisão perpétua. Ele, entretanto, está com a consciência
tranquila, pois liquidou o Adolf Hitler da imprensa brasileira.
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Escritor e jornalista,
Fernando Jorge é autor do livro As lutas, a glória e o martírio de Santos
Dumont, cuja 7ª edição acaba de ser lançada pela editora HarperCollins
Brasil.
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