A Academia Brasileira de Letras, neste ano de
2017, comemora os 120 anos do seu nascimento e logo sairá a oitava edição do
meu livro contra ela. Sim, contra ela, eu o escrevi devido as ânsias de vômito
que se apoderavam de mim, quando olhava o pavor, as curvaturas vertebrais, a
vil passividade, as diarreias ininterruptas daquele grêmio agachado diante da
Censura estúpida e dos bárbaros atos de arbítrio cometidos pelos gorilas do
Golpe de 1964.
Informou Ancelmo Gois na edição de 4-3-2017 de O Globo: o holandês Nier Vermeulen
cultiva o hábito de colecionar sacos de vômito – como os dos aviões – e já
possui 6.016 sacos desse tipo. Ora, se eu pudesse contar quantas vezes senti a
vontade de vomitar nos referidos sacos, ao ver as caganeiras da ABL em frente
dos milicos, creio que ultrapassaria o número da coleção do singular
holandês...
Senti irreprimível nojo da Academia, na época
do regime militar, pois ela nunca protestou contra as apreensões dos seguintes
livros: Feliz ano novo, de Rubem
Fonseca; Abajur Lilás, de Plínio
Marcos; Estruturalismo, de Claude
Lévi-Strauss; A Universidade necessária,
de Darcy Ribeiro; Maria da ponte, de
Guilherme Figueiredo; O mundo do
Socialismo, de Caio Prado Júnior; Rasga
coração, de Oduvaldo Viana Filho; História
militar do Brasil, de Nelson Werneck Sodré; Zero, de Ignácio de Loyola Brandão, etc, etc.
Assustada, a Academia Cagona de Letras se
emerdava toda, diante desses atentados fascistas à liberdade de pensamento.
Tremia como a terra tremeu em Lisboa, no ano de 1531, e em São Francisco da
Califórnia, no ano de 1906.
Cagona total, não emitiu sequer um pio
fraquinho de coruja velha, após estes jornalistas serem mortos sob tortura:
Luiz Eduardo da Rocha Merlino, em 1971; Carlos Nicolau Danielli, em 1972; David
Capistrano da Costa, em 1974; Vladimir Herzog, em 1975. Evoquei-os no meu livro
Cale a boca, jornalista!, cuja sexta
edição é da editora Novo Século.
A furibunda Censura dos trogloditas fardados, a
espumejar como cadela raivosa, proibia dezenas de livros, filmes, peças de
teatro, composições de música, notícias de jornais. Sentada no seu lindo
cagatório, a ABL ia parindo intermináveis e fedorentas diarreias.
Como procedeu a madame caguenta, quando uma
bomba rebentou na sede da Associação Brasileira de Imprensa, no dia 19 de
agosto de 1976? Dirigia esse órgão o jornalista Barbosa Lima Sobrinho. A
diarreica ABL não fez nenhum protesto, achou melhor ficar toda cubierta de pura mierda, a soltar con frequencia y sin reparo
gases intestinales.
Ainda em 1976, nos dias 4 e 22 de setembro,
fanáticos da Aliança Anticomunista Brasileira, explodiram duas bombas,
respectivamente no Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), e na
residência do empresário Roberto Marinho, presidente das Organizações Globo.
Reação da Academia: senil, babando, tremebunda, arriou a calça rendada, coberta
de grossas crostas de merda, posou as nádegas murchas no seu lindo cagatório e
expeliu majestosos cagalhões que dançaram na latrina, agitaram-se em
redemoinho, depois de ruidosa descarga.
Ministro da Injustiça, o Armando Falcão, de
sobrenome adequado, porque o falcão é ave de rapina, vetou no mesmo ano de 1976
a apresentação em nosso país do balé russo Bolshoi e da peça Romeu e Julieta, de Shakespeare, sob o
argumento cretino de que nessa peça havia “amores proibidos, uma relação
ilícita entre dois jovens, um assassinato, um suicídio e um pacto de morte.”
Entretanto a imbecilidade do ministro sinistro não parou aí. Frenético,
hidrófobo, no frenesi de se mostrar como “zeloso protetor da moral das
famílias”, ele proibiu também a apresentação, na TV, do Fausto, de Goethe; do Édipo
rei, de Sófocles; da Lisistrata,
de Aristófanes, peças clássicas, obras primas da literatura universal.
A ABL protestou? Não, apenas tremeu, tremeu,
tremeu e encheu, encheu, encheu o seu lindo cagatório com soberbos,
maravilhosos, fedegosos cagalhões.
Ligado aos militares da Linha Dura, o Flávio
Suplicy de Lacerda, reitor da Universidade Federal do Paraná, mandou arrancar,
na biblioteca desta, as páginas por ele consideradas obscenas dos romances de
Émile Zola e Eça de Queiroz. Além disso proibiu, na Universidade, a leitura dos
livros de Jorge Amado, Graciliano Ramos e Jean-Paul Sartre.
Trêmula, pálida, babosa, horrorosa, exaurida
pelas infindáveis cagadas, a Academia dava a impressão de implorar:
-Por favor, agentes da Ditadura, escarrem na
minha cara de sem-vergonha, apliquem nela um esplêndido, altissonante,
retumbante bofetão!
Alguém poderá dizer: Fernando Jorge, que
autoridade moral você tem para criticar o mutismo, a covardia, a alienação da
ABL, na época do Golpe de 1964? Tranquilo, respondo: tenho indiscutível autoridade
moral, porque naquela época fui processado quatro vezes, como “escritor e
jornalista subversivos”, pelo fato de sempre condenar a Censura, os atos de
arbítrio, as torturas, os assassinatos de pessoas inocentes. Portanto afirmo,
repleto de orgulho: fui o oposto da cagona Academia Brasileira de Letras. Devido
ao meu inconformismo, membros da Comissão Nacional da Verdade, com a presença
da consultora Maria Luci Buff Migliori (Brasília, fone 61-3313-7317), colheram
as minhas declarações durante cinco horas. E os leitores de O Trem me perdoem a falta de modéstia,
mas vou aqui transcrever as palavras de Ângelo Henrique Ricchetti, publicadas
na seção “Cartas” da revista IMPRENSA,
número 169, de março de 2002:
“Eu trabalhava na Assembleia Legislativa (de São
Paulo) e lá fui companheiro e amigo de Fernando Jorge. Ele era um amigo que
muito me preocupava, pois estava na lista negra dos militares como um
jornalista subversivo, mas não, Fernando não era um jornalista subversivo. Era
muito mais. Usava duas armas para combatê-los: a inteligência e a segunda, a
sua caneta, ora escrevendo livros e ora escrevendo peças de teatro, diga-se de
passagem sempre proibidas.”
Ricchetti observa: o catedrático Fernando
Henrique Cardoso, ao ver no Brasil “a coisa ficar preta, enfiou o rabo entre as
pernas e se mandou para o Chile, lá passando pouco tempo.” Logo FHC reparou,
acrescenta o autor da carta, que os contrários a Pinochet eram “simplesmente
fuzilados” e decidiu ir para a França, “com o rabo mais enfiado entre as
pernas.” Assim Ângelo Henrique Ricchetti conclui a carta:
“Pois bem, o outro Fernando, aquele que me
sinto honrado de em tê-lo como amigo, aqui estava, usando duas armas para
enfrentar a turma de militares e policiais. Um dia Fernando Jorge foi intimado
e compareceu: durante horas foi interrogado por um coronel. Não sei qual seria
o comportamento do seu xará (FHC), aquele que naqueles dias estava na França.
Já pensaram nisto?”
Agora eu, Fernando Jorge, pergunto: tenho ou
não tenho autoridade moral para esculhambar a Academia Brasileira de Letras e
chamá-la de cagona?
Encerro o texto reproduzindo esta expressão da
página 51 do Diccionario de expresiones
malsonantes del español, de Jaime Martin Martin, publicado no ano de 1974: me cago en la mierda. Adivinhe então,
amigo leitor, em qual mierda eu
gostaria deixar cair os bonitos excrementos da minha barriga...
Alguém talvez objete que sou muito agressivo,
violento. Entretanto, em certas circunstâncias, a violência se torna
necessária. Exemplo eloquente: até Jesus, símbolo perfeito do perdão e da
bondade, agiu com violência. Conforme está na Bíblia, ao entrar no templo de Deus, invadido pelos mercadores, o
Nazareno expulsou-os usando um chicote. E jogou o dinheiro deles no chão, e
derrubou os seus bancos. Palavras do Salvador, no decorrer dessa violência:
“Não façais, da casa do meu pai, covil de ladrões.” Inspirado em Jesus, eu
digo: “Não façais, ò ABL, da vossa sede no Rio de Janeiro, covil de cagões.”
Publicado no Jornal O TREM Itabirado
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