
-Presidente, além
das suas lágrimas derramadas pela morte do Getúlio, eu sei
que o senhor teve outra crise de choro.
Surpreso, abrindo mais
os olhos, ele pediu:
-Então me conte como eu tive
esta outra crise. Quero ver se você é um escritor
muito bem informado.
Comecei a narrar:
-No mês de junho de 1964,
devido a uma iniciativa do general Costa
e Silva, o seu mandato de senador foi cassado. E os militares,
estimulados pelo Costa, também suspenderam os direitos
políticos do senhor por dez anos. Não
é verdade?
Juscelino concordou:
- Pura verdade. E confesso, decidi sair
do Brasil por causa disso. Viajei para a Europa no dia 14
de junho de 1964. Mas prossiga.
Os olhos do ex-presidente, que às vezes
forneciam a impressão de ser de um chinês, revelavam uma viva
curiosidade. Eu continuei:
-Centenas de pessoas o acompanharam na
sua despedida. Um grupo de homens ergueu o senhor no
ar e o carregou sob palmas, aclamações, até
a escada do avião. Repito, eram centenas de pessoas que gritavam “vivas”, e o
senhor, emocionado, agitava um lenço branco.
Juscelino confirmou:
-É verdade, eu me
emocionei, senti o amor de povo, o seu
carinho por mim.
-Dentro do avião -
prossegui - o senhor não pôde
mais se controlar e caiu num choro
forte. Levou o seu lenço branco ao
rosto e o encharcou com as suas lágrimas.
Cheio
de espanto, Juscelino Kubitschek admitiu:
-Também é verdade, mas como veio a saber
desses fatos?
-Presidente, quem me contou esses fatos
foi o meu amigo Silveira Bueno, catedrático de filologia
portuguesa da Universidade de São Paulo. Ele já se
encontrava naquele avião, quando o senhor entrou. Viu o seu embarque, de uma
das janelas do aparelho, e o seu choro, pela fresta de
uma cortina grossa. O lugar em que o senhor se acomodou era isolado, no fundo
do avião, mas o professor Silveira Bueno estava sentado junto da cortina...
O ex-presidente fez o seguinte
comentário:
- Se você escrever a minha biografia,
decerto evocará este episódio. Chorei muito, lá dentro do avião, porque eu vi,
ao embarcar para o exílio, como o povo brasileiro me amava.
E Juscelino também não impediu o jorro
das lágrimas em outra ocasião, pois no ano de 1973, graças a
iniciativa do empresário João Abujamra,o Clube Nacional da
capital paulista o homenageou com um almoço.
Vários oradores
enalteceram o estadista nascido na cidade mineira de Diamantina.
Mas ao ouvir o discurso do meu pai, o grande orador Salomão Jorge,
que descreveu a sua infância de menino pobre, descalço, filho
de uma heróica e modesta professora, Juscelino chorou
copiosamente. Ali, naquele momento, todos puderam ouvir até
os seus soluços. João Abujamra, leal amigo do “Peixe
Vivo", é testemunha desse
fato.
Um
pensamento de Franz Grillpazer (1791-1872), poeta e dramaturgo alemão:
“As lágrimas são o
sagrado direito da dor.”
(“Die Thränen sind dês Schmerzes helig Recht!”)
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