A polêmica é a discussão pela
imprensa, ou pelos livros, ou pelos meios de comunicação, de assuntos
literários, políticos, científicos, históricos, econômicos, sociológicos,
sexológicos, etc, etc. O substantivo polêmica
vem do vocábulo grego polemikòs, que
significa combatente. Portanto, polêmica
é combate. Combate em prol de ideias, para sustentar opiniões baseadas na
lógica, na razão, nos fatos concretos. E se é combate, ela não está a serviço
dos medrosos, dos cagarolas.
Viva a polêmica e abaixo a
covardia! Polêmica é bravura, independência, democratismo. Bem sei que ao
afirmar isto eu me mostro polêmico. E daí, qual é o problema?
Quem quer defender as suas
ideias com ardor, firmeza, caráter, sinceridade, tem de ser polêmico. Silenciar
diante do erro e da injustiça é agir como um poltrão. Três coisas me causam um
profundo nojo na vida, embrulham o meu estômago. São estas: olhar a cara de um
político corrupto, ver um rato morto, em estado de decomposição, apodrecendo numa
sarjeta, todo coberto de moscas varejeiras, e conhecer fulanos dúbios, que não
possuem a coragem de expressar de modo firme e claro os seus pensamentos, de
defender as suas ideias com as armas da lógica, da razão e das verdades
insofismáveis.
Não é preciso xingar, agredir
as honras alheias, para alguém obter a vitória numa polêmica. Basta não ser
burro, ter cultura e saber usar, em vez dos ataques pessoais, a ironia, o
sarcasmo, desde que ela, a ironia, e ele, o sarcasmo, sejam inspirados pelos
erros de raciocínio e pelas besteiras do nosso adversário.
Numa polêmica, no choque de
duas opiniões opostas, a ordem deve ser esta: empregar sempre a dialética,
alicerçada na realidade dos fatos e nunca nos sofismas, nos argumentos falsos
com a aparência da verdade.
Por que a polêmica
desapareceu da vida cultural brasileira? Por que não temos mais polemistas como
o Carlos de Laet e o Oswald de Andrade? É porque quase todos os nossos
intelectuais se acomodaram, tornaram-se covardes. Aceitam tudo passivamente e
não querem discutir, refutar. Perderam a virilidade mental.
Além disso são metidos a
besta, vivem citando o Joyce, o Mallarmé, a Clarice Lispector, o Jorge Luís
Borges. Isto lhes dá um sentimento de superioridade. Pensam que pertencem a uma
“elite”. Não gostam, portanto, de polêmicas. Brigar no terreno das ideias, oh,
meu Deus, como isto para eles seria vulgar, inútil e impróprio!
Jornais como o Estadão e a Folha de S. Paulo falam sempre dos mesmos autores. Parecem os
discos emperrados das velhas vitrolas. Frequentemente publicam reportagens de
páginas inteiras sobre o Jorge Luís Borges, grande escritor, sem dúvida, mas
que foi também um racista empedernido e um asqueroso fascista, admirado e
prestigiado pelos nossos “gorilas”, pelos militares brasileiros que deram o
Golpe de 1964.
Rachel de Queiroz não merece
receber tanta cobertura da nossa imprensa, pois ela apoiou a Censura na época
do regime militar e tornou-se amiga dos generais da Linha Dura. Ela pertencia à
ridícula e anacrônica Academia Brasileira de Letras. Academia tão estéril como
o útero de uma mula.
Detesto os intelectuais
sofisticados, aristocratizados, desvirilizados, incapazes de se aproximarem do
povo. O povo, para eles, é “a plebe ignara e malcheirosa”. Tais fulanos não
gostam de polêmicas. Só querem elogiar o Joyce, o Ezra Pound, a Clarice
Lispector e o Jorge Luís Borges. Todos eles precisam levar surras de natureza
cultural. Precisam receber porradas literárias, tabefes nas bochechas flácidas
dos seus minguados intelectos.
Repito: viva a polêmica e
abaixo a covardia!
“A discussão fortalece a agudeza”
(“Perspicuitas
enim argumentatione elevatur”)
(Marco Túlio Cícero, De natura deorum, III, IV).
“Quando uma coisa deixa de ser assunto de
controvérsia, deixa de ser assunto de interesse”
(“When a thing ceases to be a subject of
controversy, it ceases to be a subject of interest.”)
(William
Hazlitt, Works, volume XII, página
384).
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